Meu blog serve para pessoas que gostam de ler histórias do cotidiano e algumas crônicas. É, especialmente, uma espaço onde compartilho as coisas que, de vez em quando, me atrevo a escrever.

Monday, December 11, 2006


A EXPERIÊNCIA DO SAGRADO

A partir do século XVI, com o humanismo, deu-se início no ocidente ao processo de mudança da cristandade, quando substituiu o pensamento teocêntrico pela valorização absoluta do humano, o antropocentrismo. O mundo, a partir de então, passou a creditar simplesmente no poder da razão que se constituía como elemento central de toda reflexão filosófica, política e cultural.
Com o passar dos séculos, a ciência passou do campo das certezas absolutas para as incertezas, onde cada nova descoberta se torna um ponto partida para outras.
Vendo que não encontraram na ciência todas as respostas que buscavam, os homens e mulheres se voltam novamente para o transcendente, reavivando, assim, um retorno a dimensão do Sagrado, numa tentativa de encontrar as razões de sua existência, algo que possa completar a sua vida.
O fenômeno religioso da busca de Deus que vemos hoje, tem alguns traços importantes que precisam ser analisados:
Criou-se a religiosidade de massa. Vale, então o número de pessoas que participam de um evento religioso, mesmo que essas pessoas não expressem um comprometimento com sua comunidade de igreja e com a sociedade;
Embora estejam em grupos, desenvolvem uma espiritualidade intimista, individualista, baseada no sentimentalismo, que acaba por criar uma ambiente próprio de alienação;
Há também uma espécie de fuga do mundo, da realidade, e, conseqüentemente, uma desvalorização do humano em detrimento do divino. Acredita-se, portanto, que, para alcançar o divino, deve-se abandonar o humano. Por isso, nessa perspectiva, o mundo não presta e não tem valor algum.
Uma vez que o valor absoluto é o transcende, o encontro com Deus no futuro (paraíso), vale a teologia da recompensa. Por isso mesmo não sabem lidar com a dimensão do humano, sobretudo com a questão do prazer, por exemplo, que, em termos religiosos está sempre ligado a relação sexual.
Uma das características desse modelo intimista de espiritualidade, é falar mais do diabo do que mesmo de Deus. É como se houvesse sempre a necessidade de um discurso maniqueísta, o confronto entre duas forças, o bem e o mal. Isso favorece uma evangelização pela imposição do medo. Ao mesmo tempo, transfere para o demônio a responsabilidade pelos erros próprios.
Retornar ao Sagrado, como temos visto hoje, é uma questão fundamental para o ser humano, mas é preciso evitar o exagero e a alienação. É preciso, ainda, não esquecer de que, sendo filhos/as de Deus, nascemos para sermos plenamente felizes, inclusive neste mundo que, depois de criá-lo Deus viu que era bom.
É claro que é importante se relacionar com Deus, mas esse Deus se revela no humano, uma vez que Ele mesmo assumiu essa condição, como bem nos lembra o evangelista João: “e o Verbo divino se fez carne e habitou entre nós”.
A relação com Deus só terá pleno sentido, quando formos capazes de amá-lo, porque o conhecemos, mas, ao mesmo tempo, quando formos capazes de amar o próximo, a outra pessoa na qual Deus se manifesta.
Precisamos de uma espiritualidade que liga a fé com a vida. Só assim saberemos respeitar a diversidade de expressões religiosas em busca do Sagrado, cada uma com seu jeito próprio e seu valor fundamental: a busca da realização plena da existência.

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